O que é o aprendizado do adulto nas organizações?
Um dos conhecimentos mais importantes que aprendi, quando fui instrutor do programa Empretec do Sebrae/ONU há 20 anos, foi a lidar com o aprendizado do adulto. Naquele momento compreendi e comecei a aplicar em minhas consultorias e treinamentos – daí transformando-os em “capacitações” – as técnicas e práticas da ciência da andragogia.
Utilizo esse conhecimento voltado para o aprendizado do adulto como uma premissa fundamental em meus trabalhos. Assim, essa premissa permeia todas as capacitações que realizo, fazendo com busque sempre a melhor forma de transmitir o conhecimento teórico e prático para aqueles (adultos) que desejam evoluir aprendendo e alcançando resultados com o uso dele.
Desde então, aplico em meus programas de capacitação os conhecimentos que aprendi sobre Andragogia nas últimas décadas. E ainda utilizo uma máxima que desenvolvi sobre o tipo e a quantidade de dedicação que uma pessoa necessita para realmente se transforma, mudando e daí aprendendo algo de novo: “o aprendizado nas organizações acontece com 10% de inspiração e 90% de transpiração”.
Nesse primeiro artigo sobre a ciência da andragogia, me permita lhe apresentar sucintamente um pouco desses aspectos sobre o aprendizado. Espero que isso sirva de suporte para que você entenda como aproveitar ao máximo toda capacitação que venha a participar comigo ou com outros profissionais do mercado.
O aprendizado interessado e envolvido do adulto
Andragogia é uma palavra de origem grega que significa “ensinar para adultos”. Esse termo foi utilizado pela primeira vez em 1833, pelo alemão Alexander Kapp, mas se popularizou na década de 70 com Malcolm Knowles, educador americano que se tornou referência no tema – foi ele quem conheci e estudei na época do Empretec.
Assim como a pedagogia, a andragogia é uma ciência que estuda a aprendizagem. Mas, diferente da pedagogia, que tem o foco nas crianças, a andragogia busca as melhores práticas e estratégias para ajudar adultos no processo de aprendizagem ativa que utilizamos.
A diferença entre pedagogia e andragogia
A pedagogia e a andragogia têm como foco de seus estudos o processo de aprendizagem e o desenvolvimento de métodos e práticas que contribuam para facilitar a compreensão daqueles que estão aprendendo. Porém, crianças e adultos têm necessidades e motivações diferentes e é por isso que as abordagens de ensino variam em cada fase da nossa vida.
Um adulto, ao frequentar um treinamento, irá absorver o conteúdo conforme seus conhecimentos prévios e terá como base para a compreensão do assunto as experiências vividas até o momento. Diferente de uma criança, o adulto é independente e traz uma carga anterior de conhecimento, o que torna o processo de aprendizagem muito mais autônomo e relacionado aos interesses do adulto.
Outra diferença fundamental do ensino de adultos e crianças é a relação da pessoa que está transmitindo o conteúdo com as que estão recebendo. A andragogia tende a ser mais horizontal e é fortalecida pela troca de experiências e pelo diálogo e debate. Nesse caso, os encontros educativos são menos expositivos e o facilitador/instrutor tem o papel de mediador na aprendizagem – na andragogia não há o papel de “professor”.
Os processos andragógicos diferem das práticas pedagógicas, nas quais existe um professor detentor do conhecimento e este o repassa aos “alunos” em uma relação mais verticalizada (e impositiva). Há mais flexibilidade nessas práticas de transmissão de conhecimento, pois a responsabilidade do aprendizado é muito mais do adulto que está interessado em aprender, do que do instrutor que auxilia no aprendizado. E realmente não há como ser diferente.
Participação no processo de aprendizado nas organizações
As práticas andragógicas costumam envolver e evoluir o aprendiz (adulto), que se torna um sujeito mais ativo nas tarefas a serem desempenhadas na medida que se envolve, participa e coopera – se responsabiliza pelo seu aprendizado. Os adultos são encorajados a participar, em conjunto com o facilitador/instrutor, desde o planejamento dos encontros, dinâmicas e atividades, até a escolha dos métodos de avaliação e da melhor forma de aprenderem.
Nos treinamentos corporativos, os adultos são chamados a aplicarem o conhecimento entregue, verificando primeiro o que já compreenderam e sabem. Assim podem iniciar o fazer em seu dia a dia profissional, entendendo o motivo pelo qual devem fazê-lo. Em ambos os casos o principal movimento vem sempre do adulto que deve se colocar como aprendiz ativo, participativo, colaborativo e cooperativo.
Assim, apesar da educação para adultos exigir autonomia e independência, ela se vale de métodos que estimulam a cooperação e o compartilhamento dos conhecimentos entre o grupo de adultos que aprende e se desenvolve junto. Ou seja, o adulto aprende se assim o desejar e se esforçar para tal.
Pré-conclusão
No próximo artigo dessa série entrarei nos princípios da andragogia, sendo está uma importante base relacionada ao aprendizado do adulto. É importante que compreendamos por que temos de nos dedicar a aprender a vender (e em todos os demais aprendizados) – esses são os 10% de inspiração – pois após esse entendimento, a incorporação dos novos hábitos e comportamentos de Vendas poderão ser “transpirados” (90%) até que os utilizemos naturalmente – de forma habitual.